Portugal

“Nunca escreverei contos sobre a política”, Mário Matos

—-Por João A. do Rosário—-

-O político, sociólogo e escritor cabo-verdiano, Mário Matos, defendeu neste fim de semana de que nunca vai escrever contos sobre a polítca mas que poderá abordar questões sociais em outras narrativas.

 

 

Mario Matos na apresentação da obra “O Chamego de Pablito e outros contos”

Mário Matos que falava a nossa reportagem, após o lançamento do seu primeiro livro de contos “O Chamego de Pablito e Outros Contos”, fez saber que numa segunda obra também de contos que, possível será lançado no próximo ano, irá abordar temática sociais, algumas ainda, segundo ele, constituindo “tabu” na sociedade cabo-verdiana.

“Mas eu quando quiser falar da política fá-lo-ei na 1ª pessoa em artigos de opinião próprios e em análises e combates políticos”, disse Mário Matos que esclareceu que continuará agora nas lides políticas com menor intensidade.

Mário Matos que é reconhecido sobretudo pela luta política que travou no parlamento cabo-verdiano, enquanto deputado da Nação pelo grupo parlamentar do PAICV, de 1996 a 2008, sublinhou que, não obstante, continua a ser um observador atento e a fazer todos os esforços materiais e não só para acompanhar a vida política e social em Cabo Verde.

No entanto, Mário Matos manifestou a sua vontade de não misturar a literatura com a política, tanto que, segundo ele, uma das observações que lhe foi feita pela editora é que o seu livro ora publicado não consta qualquer conto com preocupações sociais e políticas profundas como acontece várias vezes.

Mário Matos indicou que tal propósito foi conseguido intencionalmente na medida em que, segundo disse, nunca iria escrever contos políticos.

 

 

 

                                                    Livro “O Chamego de Pablito

                                           

                                                        Situação Mundial difícil

Em relação às questões que afectam o mundo actualmente, o escritor considerou que “estamos num tempo precipitado”.

“Os valores e princípios transversais à condição humana que todos nós partilhamos estão a ser ultrapassados”, sublinhou Mário Matos indicando que cada um pode com o seu contributo pessoal, junto da sua família, dos seus amigos mudar o rumo e as tendências actuais.

Segundo ele, o mundo está difícil, vai ser difícil mudar mas, que as pessoas podem começar a mudar a si próprias, constituindo este desiderato a responsabilidade da própria pessoa e que não pode ser passada a ninguém.

                                                                 Projectos

Falando da sua actividade enquanto escritor Mário Matos fez saber ainda que tem na “forja”, o lançamento, ainda este ano, de um livro de poemas que, segundo ele, na verdade é a sua primeira obra e que foi ultrapassada pelos contos publicados neste ultimo fim de semana, pela editora “Rosa de Porcelana”

O livro de poemas a ser lançado possivelmente, ainda este ano, de acordo com o escritor, é na variante dialetal de S. Vicente, ilha cabo-verdiana, onde o escritor nasceu

Matos falou ainda daquilo que considerou de um “projecto de amor antiquíssimo”, amor a sua ilha natal que é um ensaio sobre a Ilha de S. Vicente do contraponto que se coloca em relação à outras realidades e que será completado numa segunda parte com uma coletânea dedicada à várias problemáticas da Ilha do Porto Grande.

Nesta obra Mário Matos disse que tem artigos que constituem-se em propostas concretas sobre o carnaval, o museu do carnaval, a Fundação do Carnaval, sobre a Formação, área de que é especialista, ao subsistema de formação artística em S. Vicente e em relação ao futuro da Cabnave (Estaleiro Naval de Cabo Verde) e à agro-indústria.

“Este ano se tudo correr bem termino o II livro de contos e o romance mas não os publicarei em 2017”, anunciou o escritor recentemente chegado à lides das publicações acrescentando que as próximas obras serão conhecidas pelos leitores a partir de 2018.

 

 

Salão Nobre da Associação Cabo-verdiana repleta de personalidade do mundo social e das artes de Cabo Verde

 

Em relação ao Livro de Contos “O Chamego de Pablito e Outros Contos”, ora publicado Mário Matos disse que talvez haja uma explicação por ter escrito estes contos.

 

                                                        1º conto extraviado

 

Explicou que o primeiro conto que escreveu data da década de 1990 e que no entanto perdeu-o e que este conto já trazia esta marca do “insólito” que traz neste seu primeiro livro publicado.

Posteriormente dedicou-se à escrita de artigos de análise e combate político e as cronicas área e técnica que desconhecia e que disse ter sido incentivado mas que acabou por adorar este género.

Seguidamente pessoas a ele ligadas incentivaram-no a falar não só da política colocando tónica na rica vivência e dos laços familiares de que dispunha de uma rica memória para ser aproveitada.

A veia para contos voltou a surgir em 2008 quando fazia hemodialise e que foram retomados no hospital de Santa Maria durante um internamento de longa duração.

“Foi como uma Epifania, comecei a escrever contos quase que febrilmente e senti dentro de mim que queria escrever literariamente enquanto eu puder”, revelou Mário Matos.

Mário Matos disse que o gosto pela escrita terá começado dentro da família onde encontrou a veia de pessoas que dedicavam à escrita passando pelo pai, também de nome Mário Matos, pelo Tio Evandro de Matos, o primo Francisco Matos e a Irmã Ana Matos, entre outros.

Mario Matos revelou ter sido muito influenciado por escritores do realismo fantástico e que cultiva muito o Alain Paul que é uma referência para ele e admitiu ter imitado o Gabriel Garcia Marques que escreveu os 12 contos peregrinos e que ele escreveu os 12 contos que constam do seu livro ora publicado.

 

 

Amigos e convidados assistem, ávidos de leitura, ao lançamento do Livro de Mário Matos

Percurso

Mário Anselmo Couto de Matos, nasceu na cidade do Mindelo, S. Vicente, em Abril de 1954. É licenciado em Sociologia e Pós-graduado em Ciências Política e Relações Internacionais, ramo Globalização e Ambiente, pela   Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Foi Deputado da Nação de 1996 a 2008, tendo desempenhado, entre outras funções a de líder parlamentar do Grupo Parlamentar do PAICV (2000-2001) e de primeiro Vice-Presidente da Assembleia Nacional de Cabo Verde (2006-2008). Foi Ministro da Agricultura, Ambiente e Pescas (2001). Colaborador do Jornal A semana, desde a sua fundação. Publicou poemas em português e em Lingua Cabo-verdiana variante de S. Vicente, e artigos de recuperação de memória da cidade do Mindelo, no jornal Artiletra. Tem, no prelo, um livro de poemas em língua Cabo-verdiana e, em preparação um segundo livro de contos e um romance

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